Sinopse: James Conklin não é uma criança comum: ele vê gente morta. Com que frequência? Jamie não sabe bem; afinal, os mortos em geral se parecem muito com os vivos. Exceto pelo fato de que eles ficam para sempre nas roupas em que morreram, e são incapazes de mentir. Sua mãe implora para que ele mantenha essa habilidade em segredo, o que não é problema na maior parte do tempo. Pelo menos até Liz Dutton, a companheira de sua mãe e detetive do Departamento de Polícia de Nova York, aparecer na saída da escola e anunciar que precisa de ajuda. É assim que Jamie embarca em uma corrida para desvendar o último segredo de um falecido terrorista, e começa a jornada mais assustadora de sua vida.
Resenha/Opinião: Stephen King não para e a gente nunca sabe quantos livros esse escritor cultuadíssimo da atualidade [e antes disso também, claro] vai lançar em apenas um ano. Mas para nosso deleite, King nos apresenta mais um de seus livros curtos, "Depois", lançado no Brasil pela editora Suma.
Em "Depois" acompanhamos a história de James Conklin, um garotinho que descobre logo cedo em sua vida que tem um dom bastante peculiar; ele vê gente morta. Porém, de uma certa forma, Jamie só fica muito assustado quando seu dom se manifesta pela primeira vez na volta para casa quando ele vê um homem que morreu em um acidente. Sua mãe é cética quanto a isso, mas as circunstâncias da vida desses dois, faz com que ela acredite em seu filho.
Num certo dia, quando Jamie e sua mãe chegam em casa, percebem que algo está errado e logo descobrem o porquê disso. Jamie acaba se vendo mais uma vez utilizando seu dom e sua mãe, dessa vez diz claramente para ele jamais dizer para qualquer pessoa que seja que ele vê gente morta. Ele até obedece sua mãe, mas como nada nesse mundo é certo, os problemas não tiveram acanhamento nenhum em buscar nosso amigo James Conklin.
"Pois é. Eu vejo gente morta. Pelo que lembro, sempre vi. Mas não é como naquele filme com o Bruce Willis. Pode ser interessante, pode ser assustador às vezes (o cara do Central Park), pode ser um saco, mas em geral só é."
Uma das coisas mais interessantes na atual fase de Stephen King, é a grande dose de "realidade" e a pequena dose de "sobrenatural" que ele acaba dando em muitos livros mais recentes da sua carreira e "Depois" não é nem um pouco fora dessa vertente.
Os Conklin sobrevivem de uma agência literária fundada pelo tio de Jamie que hoje é gerenciada por sua mãe, tendo em vista a doença incapacitante dele, Jamie vê sua mãe fazendo malabarismos para pagar as contas e sobreviverem, além de criá-lo, mesmo que de uma forma um tanto peculiar, claro.
Essa "normalidade" é que mais nos envolve nas histórias de King, pois você poder ser pego de surpresa em uma situação onde não envolve nenhum tipo de terror ou sobrenatural e ainda assim, adorar cada palavra que o mestre nos apresenta. Obviamente que em "Depois" nos temos uma história de pessoas comuns com um personagem principal com um dom incomum.
Mesmo que se pareça totalmente cliché e realmente o é, King consegue nos arrebatar desde as primeiras palavras de "Depois", pois o grande segredo desse pequeno livro é a intimidade. Contado pela visão de Jamie, nós vemos seu mundo desde garotinho até sua adolescência tendo que viver apenas com sua mãe e por certo tempo, uma amiga policial Liz Dutton.
"Àquela altura, a Liz dormia na nossa casa às vezes, mas não naquela noite. Acho que foi a primeira vez que reparei que havia fios brancos no cabelo ruivo lindo da minha mãe. Ou talvez eu lembre porque ela começou a chorar e foi a minha vez de consolá-la, apesar de eu ser só uma criança e não saber fazer isso. Naquele verão, nós nos mudamos do Palácio na Park para um apartamento bem menor na Décima Avenida."
O que me deixou grato com esse livro, além da escrita fenomenal de King, foi a forma que ele encontrou de se conectar com seus leitores, pois a linguagem é bastante informal, comum e leve, o que de cara, como disse, já desperta tanto interesse que a gente acaba lendo em um ou dois dias apenas, como foi o meu caso.
King também nos apresenta as mazelas de uma mãe solteira que acaba "ganhando" de herança uma empresa, uma dívida e vidas que dependem dela para continuarem sobrevivendo. Nos mostra como os erros de outros e também os nossos, podem acabar "rendendo" reveses em nossas vidas que acabam nos levando a situações, muitas vezes, extremas.
A tradução de Depois foi um dos tópicos que ajudou muito a alavancar esse trabalho do mestre, pois além de ter ficado muito bem feita e profissional, acabou deixando a leitura mais divertida e aconchegante, pois não escondeu expressões usadas por nós Brasileiros em nosso cotidiano; poxa teve momentos em que eu me vi falando exatamente como um dos personagens de "Depois" e isso é bastante raro de acontecer, portanto, deixo aqui minha gratidão ao excelente trabalho de Regiane Winarski, que trouxe para mais perto de nós a escrita do grande mestre.
Os leitores antigos podem encontrar em "Depois" algumas poucas referências aos trabalhos anteriores do King, o que é de costume do autor, mas pelo que vi, uma ou duas e mais nada. O que não muda em absolutamente nada no prazer de ler esse pequeno livro do mundo dos Conklin. Talvez o que os leitores possam sentir, assim como eu, foi que ele poderia ter sido mais longo sim, mesmo que alguns reclamem da "verborragia" de King em alguns livros, aqui, caberia um pouco mais de palavras para se alongar ou até enriquecer mais a trama.
Como eu disse, "Depois" não traz nenhuma novidade, pelo contrário, cliché é o que o leitor mais vai encontrar na trama, mas quando o escritor sabe o que está fazendo, tudo fica interessante, mesmo aquela história que você já leu em dezenas de livros anteriores e isso, Stephen King faz com destreza. "Depois" é para todos que gostam de uma leitura envolvente e que não tome muito tempo, pois acredite, assim que se começa a ler, você não quer largar de modo algum.
"Depois", de Stephen King, publicado pela editora Suma, vem no formato brochura e com uma capa bem anos 70 e que se entrosa totalmente com a trama de Jamie. Suas páginas amareladas e fonte agradável deixa a leitura ainda mais proveitosa e prazerosa. Minha única ressalva fica para a qualidade da edição, pois acredito que pelo preço cobrado, poderia ser um pouco mais robusta ou até mesmo no formato capa dura, mas isso é uma questão para outro tópico. "Depois" pode não ser o melhor de Stephen King, e não o é mesmo, mas já é um título, que além de muito prazeroso e divertido, fica lado a lado com trabalhos como "Joyland" e "A Pequena Caixa de Gwendy", por exemplo e seria muito interessante ver uma continuação dessa trama na vida dos Conklin. Mas, por enquanto, o que nos resta é aguardar e torcer.
Autor: Stephen King é autor de mais de cinquenta livros best-sellers no mundo inteiro. Os mais recentes incluem Revival, Mr. Mercedes, Escuridão total sem estrelas (vencedor dos prêmios Bram Stoker e British Fantasy), Doutor Sono, Joyland, Sob a redoma (que virou uma série de sucesso na TV ) e Novembro de 63 (que entrou no TOP 10 dos melhores livros de 2011 na lista do New York Times Book Review e ganhou o Los Angeles Times Book Prize na categoria Terror/Thriller e o Best Hardcover Novel Award da Organização International Thriller Writers). Em 2003, King recebeu a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation e, em 2007, foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos. Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.

Autor: Stephen King
Tradução: Regiane Winarski
Editora: Suma
Páginas: 192
Ano: 2021
ISBN: 9788556511126
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