[RESENHA #059] DAVID COPPERFIELD | CHARLES DICKENS


Sinopse:
 
Um dos maiores romances do século XIX, David Copperfield é também o mais autobiográfico do autor que definiu o realismo inglês. Publicado originalmente na forma de folhetim entre 1849 e 1850, David Copperfield é o romance mais autobiográfico de Charles Dickens. Mas não só: nas palavras do grande escritor, que inspirou outros gigantes da literatura ocidental como Tolstói, Kafka, Woolf, Nabokov e Cortázar, este é seu "filho predileto". Nele, acompanhamos a jornada do herói, nascido na Inglaterra dos anos 1820: órfão de pai desde o nascimento, David Copperfield pertence à imensa massa de desfavorecidos que a literatura do século XIX, pela primeira vez, presenteou com o protagonismo. Parte fundamental da tradição do grande romance realista, este livro oferece não apenas um retrato acurado de seu tempo como também um contundente relato sobre a vocação literária.

Resenha/Opinião: Depois de quase quarenta anos dedicados ao hábito leitura praticamente ininterrupta, pensei que jamais iria me surpreender o tanto que me surpreendi com esse que um dos romances de formação e/ou realista mais famosos no meu literário clássico. David Copperfield não só me conquistou praticamente em suas primeiras páginas como me fez rever e incluir Charles Dickens como meu escritor favorito. Sim, Dostoiévski acabou perdendo seu lugar depois de muito tempo para o "conhecedor da alma humana", Charles Dickens.

David Copperfield é um daqueles romances que a gente de tanto se apegar aos seus personagens, nos dá a impressão de estarmos inseridos em toda a trama tecida pelo autor, o que de certa forma estamos mesmo. Como um romance realista, Dickens além de incluir muito de suas próprias experiências de vida mostradas através de seu personagem principal, David Copperfield, também traça um paralelo da vida cotidiana de muita gente da época em que esse brilhante romance foi escrito e apresentado ao público.


Dickens tem uma escrita tão confortável e intimista que fica muito difícil largar a leitura um minuto sequer, o que faz com que as mais de mil páginas dessa edição se tornarem até mesmo insuficientes para as nossas necessidades literárias. Acreditem, depois de pouco tempo de leitura, vai ser exatamente essa a sensação que vocês vão ter ao chegarem próximo do final. Obviamente, que a intenção de Dickens ao criar David e contar sua história pouco antes de seu nascimento até sua vida adulta e idosa, diga-se de passagem, foi a de mostrar todas as mazelas de uma das coisas mais difíceis do mundo: viver.

Sem dúvida alguma que ao contar sua história o criador, assim como sua criatura, está em busca de algum tipo de catarse, por isso se desnuda mostrando seus acertos, seus erros, suas injustiças e também a violência e seu antagônico sempre presente, o amor. Então, não é de se espantar que em meio a tantas informações e personagens descritos na trama, e que não ficam sem suas respectivas finalizações, Dickens resgata no final das contas o mais puro dos sentimentos para demonstrar que todos os caminhos sempre serão incertos mas todos também sempre se resolvem no final das contas.


Sendo um romance de formação é incrivelmente satisfatório ver o crescimento de absolutamente todos os personagens inseridos na história deixando bem claro ao leitor o tamanho nível de cuidado e complexidade de Dickens teve com cada uma de suas criações. O leitor nunca fica desamparado em momento algum na história e, com certeza, tem sua satisfação e perceber que nenhuma ponta ficou solta; é absolutamente incrível.

Claro que Dickens tecendo uma trama que trabalha com o ser humano comum [e outros nem tanto, claro], ele precisa demonstrar as hipocrisias do relacionamento e mais uma vez se desnuda e se coloca na frente tecendo suas críticas econômicas e principalmente as sociais demonstrando, por exemplo, como era o mundo para as crianças necessitadas e do outro lado das que eram amparadas, tanto social, econômica e afetivamente, sem deixar de lado quaisquer brutalidades da vida comum daquela época.

Abrangendo todo um leque de experiências conforme nosso personagem vai crescendo, Dickens explora ao máximo a crueza da responsabilidades e deveres de um jovem adulto em formação na sociedade patriarcal da época vitoriana, sem deixar de lado as peculiaridades da exploração da linhagem familiar que afeta, obviamente, o futuro brilhante ou não de determinada pessoa.


E como era de se esperar, as mudanças também são expostas da forma mais comum possível, pois é através do crescimento e das experiência adquiridas que um desejo de ser um jornalista, por exemplo, se torna obsoleto e é substituído pelo de ser alguma outra profissão qualquer, assim como acontece com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. O brilhantismo está em passar essa peculiaridade comum do ser humano com uma emoção que atinge, mais uma vez de tantas, o leitor de uma forma tão peculiar que, mais uma vez repito, David Copperfield fica quase impossível de parar de ler.  

Por essa e tantas outras coisas [que o leitor vai descobrir por si só] que Charles Dickens nos presenteou com uma das obras, hoje clássica, mais fantásticas que a literatura poderia gerar. Simplesmente, O.B.R.I.G.A.T.Ó.R.I.O.


Autor: CHARLES DICKENS (1812-1870) foi um dos mais importantes autores ingleses de todos os tempos. Autodidata, aprendeu taquigrafia e trabalhou como repórter antes de tornar-se, ainda jovem, um escritor de enorme sucesso. É autor de Uma canção de Natal e Grandes esperanças, entre outros diversos títulos.


Ficha Técnica:
Título: David Copperfield
Autor: Charles Dickens
Tradutor: José Rubens Siqueira
Editora: Penguin Companhia Clássicos
Páginas: 1160
Ano: 2018
ISBN: 9788582850671

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