[RESENHA #040] FRANKENSTEIN | MARY SHELLEY

Sinopse: O jovem e talentoso dr. Victor Frankenstein tinha um futuro brilhante pela frente. Contudo, sua obsessão pelo obscuro e pelo desconhecido seria sua ruína: ávido pelo poder de transformar a natureza, Victor descobre o segredo da centelha da vida. O resultado não poderia ser pior. Mais que uma história de horror, Frankenstein: ou o Prometeu moderno traz discussões que inquietam o homem desde a Antiguidade e ainda hoje dividem opiniões. Quais são os limites da ciência? Quais as responsabilidades do criador em relação à criatura? Conceitos como o bem e o mal, ou como herói e vilão, são apresentados com nova profundidade, despidos de qualquer maniqueísmo. Poucas obras se tornaram tão influentes e atemporais. Conhecido no mundo inteiro, o monstro de Frankenstein faz parte do imaginário universal, ao lado dos mitos do vampiro e do lobisomem, e continua a inspirar incontáveis adaptações no cinema, no teatro, na televisão e nos quadrinhos, para os mais diversos públicos.


Resenha: Frankenstein talvez tenha sida a obra clássica de terror que mais teve adaptações de diversos tipos de mídia até hoje. Mary Shelley nunca teria imaginado que um desafio entre amigos pudesse revelar ao mundo uma das melhores histórias de terror de todos os tempos, juntamente com "Drácula" de Bram Stoker e "O Médico e o Monstro" de Robert Louis Stevenson.
  

Frankenstein começa de uma forma muito comum na literatura daquela época, através de cartas. O capitão Walton se comunica com sua irmã e é através dessas cartas que já ficamos muito interessados em conhecer a história de Victor Frankenstein. 

Enquanto conta um pouco dos próprios infortúnios, o capitão Walton nos introduz aos relatos de Victor, os quais resolve registrar. Desse ponto em diante, nos vemos conversando com o próprio Victor onde ele relata fatos de sua infância, passando por sua adolescência e como a ciência se tornou uma paixão que o acompanharia por toda sua vida. Shelley, nos leva a conhecer as razões de seu personagem a querer criar algo impensável como uma vida. Sua escrita é deliciosamente fluída e não cansa em nenhum momento sequer; na verdade é bastante difícil deixar de lado essa espetacular obra.

"O meu temperamento era por vezes violento, e veementes as minhas paixões; mas por alguma lei da minha natureza, elas não se dirigiam a desejos infantis, mas a um intenso desejo de aprender, e não a aprender todas as coisas indiscriminadamente"


O que devemos lembrar é que devido as tantas interpretações de Frankenstein que já foram feitas até hoje, seja no cinema, quadrinhos e até mesmo adaptações literárias, algumas pessoas ao entrar em contato com a obra original, irão notar que existem diversas diferenças tomadas pelas suas respectivas adaptações desde aquela figura caricata de Boris Karloff até a versão mais moderna de Aaron Eckhart. Minha preferida é sem dúvida é "Frankenstein de Mary Shelley", dirigida por Kenneth Branagh, que conta ainda com Robert de Niro no papel da criatura. Obviamente, o filme toma várias liberdades criativas, inclusive no tocante à criação da segunda criatura, que não existe no livro original.

O Prometeu Moderno, como também pode ser chamado Frankenstein, é uma obra que mostra o lado mais sombrio do ser humano, principalmente quando está em busca de algo como o reconhecimento, fama e prestígio. Também nos mostra que, apesar de sempre ter uma escolha, os vilões podem ser forçados a situações que os transformam no que são.

O Prometeu, nasce de uma experiência e é sumariamente rejeitado por seu criador e pai. Daí em diante, a criatura passa a uma vida marginal e de conhecimentos extremos devido à sua aparência. Conhece o amor e os prazeres de uma vida comum, mas também conhece o profundo ódio e a violência desmedida do ser humano.


Toda essas experiências levam aquela criatura, antes vazia de emoções, a conhecer apenas um caminho ao qual se decide por viver. A autora nos mostra essas escolhas, mas também nos mostra todas suas consequências futuras na vida tanto da criatura quanto de seu criador. É impressionante como uma obra publicada originalmente em 1818 [de forma anônima e depois oficialmente em 1831, após revisão da própria autora], soar tão atual e imponente depois de tanto tempo e tantas gerações.

Obviamente, que as escolhas feitas por ambos personagens devem ser analisadas de uma maneira quase metafórica, trazendo-se para os dias atuais e às questões sócio-econômica-culturais, por exemplo. Também há de se lembrar que o forte da obra de Shelley se baseia no Darwinismo, onde a criatura, de uma certa forma, pode ser encarada como uma evolução de espécie ou transmutação, como trata tais teorias.

"Não havia ninguém entre as multidões de homens existentes que tivesse piedade de mim ou me acudisse; e deveria eu sentir bondade por meus inimigos? Não; a partir desse momento, declarei uma guerra perpétua contra a espécie e, mais do que tudo, contra aquele que me formara e me destinara àquela insuportável miséria."


Querendo ou não, Frankenstein de Mary Shelley, pode ser encarada de diversos pontos de vista, mas o que interessa é que você, leitor, aprecie esta obra fantástica que sem dúvida alguma deve, ou deveria, ser lida por todos. Ainda mais nessa nova edição que a Martin Claret nos presenteou que vem no formato capa dura, papel pólen, fonte agradável, fitilho de seda e com uma ilustração que, aparentemente simples, capta perfeitamente a síntese da criatura e seu desejo de vida, a qual não pediu. Além disso, a edição conta com uma bela introdução de Lilian Cristina Corrêa e um trabalho editorial perfeito. Mais uma vez fica claríssimo que Frankenstein de Mary Shelley e publicado pela editora Martin Claret, se não O.B.R.I.G.A.T.Ó.R.I.O. é, claro, I.M.P.E.R.D.Í.V.E.L.


Sobre a autora: Incentivada desde pequena pelo pai a ser escritora, produziu diversos trabalhos, porém infelizmente poucos manuscritos sobreviveram com o tempo. Escritora de grande expressividade na literatura inglesa, publicou contos, séries de dramaturgia e ensaios, mas sua obra mais famosa foi Frankenstein, que lhe rendeu diversas adaptações e traduções. Esposa do poeta romântico Percy B. Shelley, Mary Shelley também se envolvia bastante com o trabalho do marido. Passou boa parte de sua vida dedicada ao filho e à carreira. Morreu aos 53 anos de idade em 01 de fevereiro de 1851.

Ficha Técnica:
Título: Frankenstein
Autor: Mary Shelley
Tradução: Roberto Leal Ferreira
Editora: Martin Claret
Páginas: 286
Ano: 2021
ISBN: 9786559100705

Postar um comentário

0 Comentários