[RESENHA #060] O INFORME DE BRODIE | JORGE LUIS BORGES


Sinopse: Este livro de contos, publicado pela primeira vez em 1970, começa por um delicioso prólogo em que um narrador experiente justifica, com alguma ironia, seu modo de contar histórias diretas, realistas e aparentemente simples, pela imitação da arte do jovem Kipling. Na verdade, desde "A intrusa", obra-prima de concisão e complexidade, até o conto final que dá nome ao conjunto, passando pelo admirável "O Evangelho segundo São Marcos", o que mais chama a atenção é o domínio da narrativa, cuja forma breve e despojada depende de lacônicos detalhes de composição de grande poder sugestivo. O duelo de facas ou de mentes pode não ser apenas o motivo central de muitas das histórias, mas o móvel da tensão interna que nos mantém presos à trama e nos desperta para um emaranhado de mais longo alcance. É assim que uma fresta fantástica visita às vezes alguns dos relatos, demonstrando que, mesmo nos resumos drásticos de fatos triviais, a imaginação é capaz de ampliar os limites do conhecimento e criar o desconcerto, para o prazer do leitor.

Resenha/Opinião: Realmente tudo tem seu tempo, seja na nossa vida corriqueira como na nossa vida literária. Na época em que ouvi pela primeira vez o nome Jorge Luis Borges foi através de uma antologia cinematográfica que adaptou diversas histórias de Borges. Hoje, não me lembro mais dessa antologia, só sei que foi importante para minha curiosidade literária numa época onde não tínhamos uma comunicação digital adequada ou seja, já faz muito tempo. Porém, mesmo interessado como fiquei em conhecer a obra desse escritor, no mínimo curioso, não fui além por falta de informação ou algo assim, realmente não me lembro mais.

Mas o que mais me marcou naquela antologia cinematográfica foi um dos episódios baseado em "O Evangelho Segundo São Marcos", que descreve como a inocência misturada com a ignorância e o fanatismo religioso leva as pessoas cometerem atitudes muitas vezes extremistas e violentas, isso claro, pelo ponto de vista do segregado. O brilhantismo de Borges nesse conto é justamente a dualidade das ações e reações dos personagens que passam por dificuldades e têm a morte como companheira quase que diariamente em suas vidas e se agarram as suas crenças e virtudes moldadas pelo fanatismo religioso. Por outro lado, a visão da ciência através da medicina vezes paliativa e vezes salvadora bate de frente com essa visão fanática de um pequeno grupo de pessoas que vêm o médico com uma visão distorcida, porém, bondosa dentro de seus parâmetros de vida. Com um desfecho que impressiona tanto na tela quanto no papel, Borges me arrebatou somente com esse pequeno conto presente em "O Informe de Brodie".

Mas não é somente "O Evangelho segundo São Marcos" que impressiona nesse conjunto de histórias de Jorge Luis Borges, que é formado por mais 10 contos que são basicamente tratados regionais de história de vida do autor. Assim como temos nossos autores brasileiros que nos contam histórias da velha guarda onde o machismo, o autoritarismo, a valentia e por que não dizer também, a covardia dos homens era o que imperava na vida cotidiana de qualquer um daquela época, aqui também temos os mesmo regionalismos da velha guarda argentina.


Já em seu conto de aberta, "A Intrusa", podemos ver como o amor, a paixão e o sexo, pode ter consequências bastante desastrosas e extremamente chocantes, principalmente para a mulher daquela época, que não tinha voz para nada e era tida como um troféu e as que ousassem ser mais do que isso sempre arcavam pesadamente com as consequências de seus "desvarios". Claro que o autor nos demonstra toda essa 'violência' sexista da mesma forma em que era tratada naqueles tempos, como uma coisa corriqueira, o que deixa mais evidente a forma denunciatória, podemos assim dizer, que o conto "A Intrusa" nos é apresentado, deixando ao leitor aquele gosto amargo de impotência e injustiça.

Daí pra frente, Borges lança mão do tema principal que permeia quase a totalidade das histórias desse antologia: O Acerto de contas. Sim, isso mesmo. Quem não se lembra das histórias que as vovós ou vovôs contavam dos acertos de contas que naquela época eram feitos na base da valentia e até mesmo através de duelos. Borges reforça em algumas histórias a força que o ódio dá para as pessoas se enfrentarem, mesmo que a razão desse ódio seja até mesmo algo que nunca aconteceu, mas começou com um suspiro e acabou se tornando uma verdade mentirosa.

É nesse ponto que conhecemos personagens valentes e violentos e também os violentos covardes, mas segundo a lei de Borges, todos têm seu final declarado até nos últimos momentos de cada história. A simplicidade da escrita do autor acaba por nos fascinar e nos prender tanto que é extremamente difícil largar a leitura de suas narrativas, ainda mais sendo curtas, o que impressiona ainda mais, pois como é possível passar tanto brilhantismo em situações comuns, para a época, em tão pouco tempo? Assim é a literatura borgiana, curta e complexamente simples. I.M.P.E.R.D.Í.V.E.L.


Autor: Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires em 24 de agosto de 1899. Entre 1914 e 1921 viveu com sua família na Europa. De volta à Argentina, fundou as revistas Prisma e Proa e escreveu livros como Fervor de Buenos Aires e História universal da infâmia. Nas décadas seguintes, publicou os contos que lhe trariam reconhecimento mundial. Foi presidente da Sociedade Argentina de Escritores, diretor da Biblioteca Nacional, membro da Academia Argentina de Letras e professor da Universidade de Buenos Aires. Recebeu o título de doutor honoris causa das universidades de Columbia, Yale, Oxford, Michigan, Santiago de Chile, Sorbonne e Harvard. Entre seus principais livros estão Ficções, O aleph, O livro de areia e História da eternidade. Ganhou, entre outros, o prêmio Nacional de Literatura e o Cervantes. Morreu em Genebra em 1986.


Ficha Técnica:
Título: El Informe de Brodie
Autor: Jorge Luis Borges
Idioma: Espanhol
Editora: Sudamericana
Páginas: 128
Ano: 2016
ISBN: 9789500756082

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