Sinopse: Em uma roda de amigos em volta de uma mesa de baralho, a história da condessa e do misterioso segredo para vencer no jogo de cartas vem à tona e desperta a curiosidade de ambicioso Hermann. Ele então põe em prática seu plano para descobrir o mistério, mas mal pode imaginar com o que vai se deparar.
Resenha/Opinião: A vida de leitor não é fácil. Toda vez que você pensa que está indo bem, já se acomodou com o que leu e o que vai ler, acaba conhecendo mais um autor. Daí, as pilhas e opções de leitura só aumentam. Acho que isso deve ser um "problema" que "aflige" todos os leitores do planeta. Bom, comigo não foi diferente e quando eu ganhei um "pequeno gigante" chamado A Dama de Espadas, pensei que seria apenas mais um "livrinho" lido e logo depois esquecido e jogado ao limbo. Mas, como diriam de Joseph Climber, "a vida é uma caixinha de surpresas" e foi justamente assim que me espantei com a escrita de Aleksandr Púchkin [traduzido como Alexandre Pushkin, arrrgh]. Mesmo que a editora tenha resolvido traduzir o nome do autor, isso pode ser encarado como um erro menor, pois de restante, acertaram e muito bem.
A Dama de Espadas, nos apresenta o mundo das cartas e dos grupos de jogos. É ali que conhecemos Hermann, um arquiteto alemão que está economizando cada tostão para uma vida melhor e proveitosa. Ele acredita que precisa de uma chance da sorte para ficar rico e ser diferente daqueles que já são endinheirados, não sendo um esbanjador, pois Hermann sabia o valor do dinheiro.
E foi numa noite de jogatina, a qual Hermann nunca participava ativamente, somente observava e aprendia, que ele ouviu pela primeira vez a "anedota das três cartas". A avó de um dos jogadores era uma condessa que há muitos anos conseguiu pagar uma dívida enorme de jogos quando lhe revelaram um segredo das cartas e ela pôde colocar em prática e ver com os próprios olhos o grande resultado que mudou sua vida.
Desde que ouvira a "anedota das três cartas", Hermann ficou obcecado com aquilo e, por uma ironia do destino, o arquiteto alemão teve uma pequena chance de tentar descobrir esse segredo que poderia mudar sua vida completamente, assim como mudou a da condessa Anna Fedótovna. Mesmo que por meios "vilanescos", Hermann não teve escrúpulos e agarrou com todas as suas forças a tal chance, pois não importava mais nada, o que ele precisava fazer era descobrir o segredo para sua ascensão.
Dinheiro, sempre o dinheiro. Em apenas 80 páginas, Aleksandr Púchkin, nos mostra como o ser humano se porta na iminência de conseguir o tal do dinheiro. O autor nos arrebata logo nas primeiras páginas com sua escrita aconchegante e fluída mostrando que A Dama de Espadas é uma pequena trama que nos mostra as faces do ser humano quando quer algo para si, mesmo que o objeto de seu desejo não lhe pertença ou que custe algo desagradável aos outros. O que importa mesmo é o fim e não os meios, assim pensa nosso personagem, Hermann.
"Lizaveta Ivánovna não a escutava. De volta para casa, correu até seu quarto, tirando a cara da luva: não estava lacrada. Lizaveta Ivánovna leu. A Carta continha uma confissão de amor: era meiga, respeitosa e tirada, palavra por palavra, de um romance alemão. Mas Lizaveta Ivánovna não sabia alemão, e ficou muito satisfeita por recebê-la."
Púchkin não deixa de fora críticas de sua sociedade e seu modo de vida, batendo nas teclas da futilidade, desperdício e arrogância, mas principalmente, a hipocrisia. De uma certa forma, não se pode negar que Hermann, metaforicamente falando, é aquele desejo oculto que todo mundo tem e que, muitas vezes, no começo parece ser uma coisa boa e correta, mas no fundo não passa de uma realidade obscura, ultrajante e criminosa. É exatamente nesse ponto que está o brilhantismo da trama, que ao invés de esconder essa "cara" suja e ignóbil, escancara sem nenhum pudor toda a vilania inerente ao ser humano.
A Dama de Espadas ainda tem em suas páginas um certo tom de sobrenatural que, aliada a "moral da história", nos apresenta um delicioso final, fazendo com que essas poucas páginas sejam um grande deleite aos seus leitores. Aliada a bela edição que a editora Principis nos presenteia e, que não foge do estilo de seus outros títulos, A Dama de Espadas vem no formato brochura, papel pólen, fonte muito agradável e com diversas ilustrações e citações no começo de cada capítulo. Não tem como não dizer que A Dama de Espadas de Aleksandr Púchkin, publicado pela editora Principis, além de uma bela surpresa, é absolutamente I.M.P.E.R.D.Í.V.EL.
Autor: Aleksandr Sierguéievitch Púchkin nasceu em Moscou, em 1799. Sua obra, que abarca diversos gêneros literários, foi decisiva para a consolidação da língua literária russa e sua influência se faz notar em todos os escritores russos de sua geração e das posteriores. O romance em versos Ievguêni Oniéguin é considerado sua obra-prima. Púchkin morreu em 1837, vítima de um duelo.

Autor: Aleksandr Púchkin
Tradução: Irineu Franco Perpétuo
Editora: Princips
Páginas: 80
Ano: 2019
ISBN: 9788594318732
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