[RESENHA #021] A GUERRA DOS MUNDOS | H. G. WELLS


Sinopse: O romance que, graças a Orson Welles, gerou paranoia em 1938, que inspirou adaptações cinematográficas e que desde o momento de sua publicação tornou-se indispensável aos amantes da ficção científica: "A guerra dos mundos". Em sua quarta obra, H. G. Wells povoa a pacata Inglaterra do século XIX com seres vindos de Marte e Trípodes gigantes que encarregam-se de dizimar uma população apavorada. O caos se espalha pelas ruas enquanto a população tenta entender o tipo de ameaça que caiu dos céus. A obra de Wells é fascinante, enriquecendo ainda mais o imaginário extraterrestre e ressoando a pergunta que faz parte da história da humanidade: estamos sozinhos no Universo?

Resenha/Opinião: Se existe uma coisa que eu não me canso é de me surpreender com a literatura. Quem me acompanha sabe que vivo dizendo isso e hoje, mais uma vez, fui surpreendido pela leitura de "A Guerra dos Mundos" de H. G. Wells, um grande clássico da literatura mundial que, inexplicavelmente, ainda não tinha tido o grande prazer de ler. Mas o dia chegou e foi muito bom.


A Guerra dos Mundos trata de um dos maiores medos da humanidade, a invasão alienígena. Mesmo que isso possa soar um pouco "fora dos trilhos" para a população mundial mais moderna, saibam que nos anos de "ouro" isso era uma verdadeira paranoia. Justamente nesse ponto que Wells coloca toda uma história que explora de uma forma espetacular esse medo que era tão comum antigamente. 

Através de um personagem que está escrevendo seu relato dos dias da invasão, pelos marcianos, diga-se de passagem, nos vemos atrelados ao seu relato com uma certa apreensão, pois, pelo menos para aqueles que estão se aventurando nessa história pela primeira vez depois de ver filmes e séries baseados nela, a "comparação" acaba sendo inevitável. Porém, uma coisa que todos já sabemos é o grande talento de Wells, pois sua escrita nesse romance continua aconchegante e fluída, aliás coloca fluída nisso.


"Rapidamente, um depois do outro, um, dois, três, quatro marcianos encouraçados apareceram, bem ao longe, por cima das árvores mais baixas, do outro lado da pradaria que se estendia até Chertsey, e deslocavam-se com pressa em direção ao rio. A princípio, pareciam pequenas figuras encapuzadas, andando em movimento circular e velozes como pássaros em pleno voo."

Voltando ao tema "comparações", mesmo que em mídias diferentes, a leitura de "A Guerra dos Mundos" me surpreendeu de uma forma muito bacana, pois a narrativa não cansa em momento algum e as cenas de ação são espetaculares, pois Wells faz o leitor imergir na narrativa de nosso personagem de uma forma tão profunda que você consegue sentir os medos juntamente com ele. E foi nesse ponto que eu notei que muitas produções beberam na fonte de "A Guerra dos Mundos", pois as cenas de ação criadas pelo autor em 1897, sim eu disse mil oitocentos e noventa e sete, foram reproduzidas diversas e diversas vezes em várias produções cinematográficas, demonstrando o tamanho poder de visão de Wells.

O livro explora magistralmente a queda da humanidade para os invasores numa visão londrina do século XIX, isso sem poupar cenas de extremo terror, principalmente para os leitores daquela época. Além disso, ainda vemos a eterna luta pela sobrevivência quando se trata de um tipo de "fim do mundo", pois Wells, demonstra muito bem a faceta humana quando posta à prova em uma situação de vida ou morte, sempre acertando naquele "nervo" social, que todos detestamos mas que na verdade, não sabemos se faríamos exatamente as mesmas coisas.


Mas, claro, que também existe o lado "bom" do ser humano nessa história, sem dúvida alguma, nada adiantaria se não fosse a esperança do personagem bom que mesmo no meio do caos total ainda acha uma pequena fagulha de esperança para continuar vivendo. Isso também é ser um ser humano e Wells reserva um grande espaço em sua história explorando e muito bem essa nossa faceta.

"Em Sunbury, e com certa periodicidade ao longo do caminho, havia cadáveres em posições contorcidas, tanto de cavalos quanto de homens, charretes tombadas e bagagens espalhadas, tudo coberto por uma grossa camada de poeira preta. Aquela atmosfera tomada de cinzas me fez logo pensar no que eu havia lido a respeito da destruição de Pompeia." 

Mesmo que "A Guerra dos Mundos" seja classificado com um livro de ficção científica, acredito que exista muito mais do que isso nessa grande história. A superação da humanidade pelos terrores dela mesma é espelhada nos marcianos que invadiram a terra com um único propósito sendo, obviamente, totalmente egoísta. O que diz muito sobre nossa história sobre guerras, conquistas e evolução. Wells era um visionário que através de uma história arrebatadora, acabou demonstrando diversos dilemas que ainda hoje, infelizmente, estão pendentes de resolução. Eu acredito que a Ficção Científica de "A Guerra dos Mundos" fica por parte dos marcianos e seus maquinários, pois de resto, continua sendo a mais árdua batalha entre nós mesmos.


Não tem como não falar da edição que a editora Martin Claret nos presenteou, pois "A Guerra dos Mundos", vem no formato capa dura, fonte agradável, papel amarelado, pintura trilateral e um conceito artístico de tirar o fôlego de qualquer um, inclusive pela arte da capa totalmente retrô e muito bem "encaixada" com a trama toda. É impossível não achar esse um dos mais belos livros da editora que, aliado ao talento de Wells, faz com que "A Guerra dos Mundos" seja inegavelmente, I.M.P.E.R.D.Í.V.EL. 


Autor: H. G. Wells (1866-1946) estudou biologia na Escola Normal de Ciências em Londres. Essa formação foi fundamental no desenvolvimento dos temas de que o escritor londrino trataria em seus romances, o que o levou a ser um pioneiro da ficção científica. Além de compor tramas inquietantes, como uma viagem no tempo ou invasões alienígenas, expôs questões que se mantêm atuais quase um século depois de sua morte, como a ameaça de guerra nuclear e a ética na manipulação genética. Também foi autor de romances fora do gênero de ficção científica e membro da Fabian Society, núcleo político britânico formado no final do século XIX que visava a conceder às classes trabalhadoras o controle dos meios de produção na Inglaterra.

Ficha Técnica:
Título: A Guerra dos Mundos
Autor: H. G. Wells
Tradução: Leonardo Castilhone
Editora: Martin Claret
Páginas: 294
Ano: 2019
ISBN: 9788544002261

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