Sinopse: O impulsivo cientista Griffin, que dedicou sua vida aos estudos da óptica e da refração, torna-se invisível. Incapaz de reverter tal efeito, ele luta para não se entregar à loucura e ao crime. O homem invisível, publicado pela primeira vez em 1897, tornou-se rapidamente uma das principais obras do gênero da ficção científica. H. G. Wells explora a perda de identidade e o desaparecimento da consciência e da moralidade.
Resenha/Opinião: Acredito que todo mundo em alguma época de suas vidas, imaginou como seria legar ser invisível. Quantas coisas poderíamos fazer sem que nos vissem. Bom, eu mesmo já me imaginei sendo invisível também e na teoria é uma coisa que parece ser bem bacana. Porém, é aí que H. G. Wells nos mostra que não é bem assim. Através de um cientista que testa seu experimento em si mesmo e acaba ficando invisível, que podemos ver todos os problemas de tal situação. Wells antes de se aprofundar na história do cientista em si, mostra como ele se relacionava em um mundo normal sendo invisível e tentando a todo custo ocultar isso das outras pessoas.
"Embora o fogo provesse intenso calor, ela ficou surpresa ao ver seu hóspede ainda de chapéu e casaco, parado de costas para ela e contemplando pela janela a neve caindo no pátio. O estranho estava com as mãos enluvadas para trás, espremendo uma contra a outra, como se estivesse perdido em pensamentos."
Apesar de parecer que ser invisível seria uma coisa que só traria benefícios, Wells mostra muito bem que as coisas podem sair totalmente do controle. E é assim que nos deparamos com aquilo que nunca pensaríamos quando nos imaginávamos com o poder de sermos invisíveis: As consequências!
O autor demonstra, através do cientista, todos os problemas decorrentes desse poder. É muito interessante ver a evolução do personagem principal antes da experiência e muito mais após, pois assim nos deparamos com sua luta desesperada para tentar reverter aquele processo, tentando de tudo e sem sucesso, sabendo que o pior estaria logo por acontecer.
Já de cara, Wells desconstrói aquele "benefício" que tudo seria mais fácil se fossemos invisíveis, pois já demonstra que sequer conseguiríamos o essencial para uma vida comum, como dinheiro, comida e um teto. Apesar que nos dias de hoje, com o largo uso do mundo digital, talvez, a obra de Wells possa ter uma conotação diferente do que teve para a sociedade da época em que foi escrito, pois hoje, principalmente na vida "pós pandemia", o mundo viu um crescimento de "pessoas invisíveis" que vivem praticamente isolados do mundo real e vivendo cada vez mais no virtual.
O tapa na cara da sociedade, fica por conta do próprio homem invisível em sua busca pelo grande sucesso que sem se importar muito com as ditas consequências, coloca seu ego e sua arrogância, além da ganância e ânsia pelo poder da descoberta, em primeiro lugar, tornando nosso personagem não muito diferente de qualquer pessoa sem escrúpulos que almeja sucesso sem pensar em mais nada.
"Era a coisa mais esquisita do mundo ouvir aquela voz sendo emitida, como se viesse do vácuo, mas os matutos de Sussex talvez sejam as pessoas mais pragmáticas sobre a face da terra. Jaffers também também se levantou e tirou do bolso um par de algemas. Então ficou parado olhando para o nada."
O lado psicológico de nosso personagem é bastante explorado também, demonstrando até onde o homem pode aguentar uma situação extrema e sem solução sem que perca a razão definitivamente. Wells explora com maestria a raiva, a sensação de incapacidade, a derrota, o desespero e também a depressão, mesmo que sutilmente, mas ela está lá, presente. O Homem Invisível é um clássico da literatura fantástica e H. G. Wells nos leva em uma aventura cheia de suspense e aventura, mas não cometa o erro de achar que toda essa aventura é apenas uma ficção científica de alto padrão sem qualquer mensagem ou alerta sócio-econômico-cultural, basta se ater aos detalhes que todas as mensagens e críticas se revelam.
O Homem Invisível de H. G. Wells, publicado pela editora Martin Claret, vem formato capa dura, com fonte agradável, folhas amareladas, pintura trilateral e um ótimo trabalho editorial e isso, sem falar da capa que tem além de uma sacada muito bacana que casa perfeitamente com a história toda, traz de volta aquele ar retrô dos anos de ouro da Ficção Científica. Realmente uma edição que agrada aos olhos, ao coração e à mente. Por isso, rendido totalmente ao talento de H. G. Wells como estou, só posso dizer que O Homem Invisível é absolutamente I.M.P.E.R.D.Í.V.EL.
Autor: H. G. Wells (1866-1946) estudou biologia na Escola Normal de Ciências em Londres. Essa formação foi fundamental no desenvolvimento dos temas de que o escritor londrino trataria em seus romances, o que o levou a ser um pioneiro da ficção científica. Além de compor tramas inquietantes, como uma viagem no tempo ou invasões alienígenas, expôs questões que se mantêm atuais quase um século depois de sua morte, como a ameaça de guerra nuclear e a ética na manipulação genética. Também foi autor de romances fora do gênero de ficção científica e membro da Fabian Society, núcleo político britânico formado no final do século XIX que visava a conceder às classes trabalhadoras o controle dos meios de produção na Inglaterra.

Autor: H. G. Wells
Tradução: Leonardo Castilhone
Editora: Martin Claret
Páginas: 256
Ano: 2020
ISBN: 9786586014624
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