Sinopse: Os irmãos Karamázov é o último romance de Dostoiévski. No fundo, ele resume toda a criatividade do escritor, trazendo à baila as "malditas" questões existenciais que o afligiram a vida inteira, com especial relevo para a flagrante degradação moral da humanidade afastada dos ideais cristãos. Cheia de peripécias, a narrativa põe em foco três protagonistas irmãos, representantes dos mais diversos aspectos da realidade russa – o libertino Dmítri, o niilista Ivan e o sublime Aliocha –, a fim de alumiar as profundezas insondáveis do coração entregue ao pecado, corrompido por dúvidas ou transbordante de amor.
Resenha/Opinião: Não é segredo algum que Dostoiévski é um dos meus autores preferidos de todos os tempos. Seria muito difícil ficar desapontado com qualquer obra que ele tenha nos deixado. E mais uma vez nosso querido e amado "Dostô" nos apresenta uma obra desafiadora e absolutamente retumbante.
"Por um breve momento, a sua bela e rica imaginação pintou Fiódor Pávlovitch - apesar de sua reputação de parasita - como um dos personagens mais ousados e maliciosos desses tempos de transição para tudo o que há de melhor, enquanto ele não passava de um péssimo comediante."
Nesse último romance de Fiódor Dostoiévski, conhecemos uma família altamente disfuncional e podemos dizer, bastante fora de época também, pelo menos se encararmos pelo senso comum da família russa clássica, pois, logo de cara, nós conhecemos a figura paterna que não passa de um canalha que só pensa em dinheiro. Casa-se com quem quer que seja para se apropriar do dote das famílias e nessa brincadeira, acaba se casando algumas vezes e também tendo três filhos totalmente diferentes uns dos outros.
É nessa toada que explorando a personalidade de cada um dos personagens, nos envolvemos em dilemas complexos sobre religiosidade, sobre o que é ser um ser humano e também sobre o amor. Justamente nesse ponto, Dostoiévski, extrapola [no bom sentido claro] as diversidades desse amor, mas não só o carnal, mas também o amor fraterno entre amigos, irmãos e figuras emblemáticas do romance.
"Isso significa que em seu amor por esta mulher havia algo muito mais elevado do que ele mesmo imaginava, não apenas atração sensual, não apenas "as curvas de seu corpo", como ele disse a Aliocha. Uma vez longe de Grúchenka, Mítia logo recomeçava a suspeitá-la de todas as maldades e perfídias da traição. E não sentia o menor remorso."
Dostoiévski, joga ao leitor quatro personalidades distintas de uma só família e as mistura com seus personagens secundários que alimenta ainda mais a trama de uma forma espetacular que engendra todo e qualquer leitor que se atrever a ler as primeiras linhas de Os Irmãos Karamazov.
Apesar de ser um livro longo, com partes altamente contemplativas, as páginas são viradas com muito deleite e quando percebemos estamos bem mais aprofundados na leitura do que costumamos estar. Mesmo porque, este talvez seja uma dos romances mais diferenciados do autor, pois aqui temos seus temas mais comuns, como o amor, a morte, a busca pelo financeiro sem escrúpulos e também aqueles não muito comuns como assassinato, assédio e o tribunal dos justos, que nos rende ótimas reviravoltas.
"O Oficial tomou o papel que ela estendia ao juiz, enquanto ela se deixou cair na cadeira e, cobrindo o rosto com as mãos, começou a chorar convulsiva e silenciosamente, sacundindo-se inteira, reprimindo os menores gemidos por medo que a obrigassem a abandonar a sala."
Os Irmãos Karamazov, resumidamente falando é um romance policial russo com altas doses de psicologia e psiquiatria humana, além daquela religiosidade conturbada que Fiódor sempre nos apresenta, pois apesar de sua ortodoxia espiritual [se é que esse termo existe], Dostoiévski sempre dialoga com ambos os lados da moeda e, muitas vezes, duramente. Se você gosta de um bom romance russo, com os toques acima mencionados e ainda é apreciador de Fiódor Dostoiévski, ou não, acredite, Os Irmãos Karamazov é INDISPENSÁVEL.
Não bastando ser um romance espetacular, a editora Martin Claret ainda nos presenteia com uma edição magnífica em capa dura tanto na versão de tamanho normal como na versão pocket. Ambas são apresentadas com fontes agradáveis com a ressalva que a versão normal tem a cor verde na fonte como parte comum dessa coleção que acompanha as cores das capas e lateral. Impressas em papel de ótima qualidade quaisquer uma dessas versões serão satisfatórias para os leitores, pois chegaram ao mercado como resultado de um trabalho editorial primoroso, respeitoso e profissional.
Autor: Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi escritor, jornalista e filósofo. Nascido na Rússia, é considerado um dos pais do existencialismo – em virtude de seus romances que retratam de forma filosófica as patologias psicológicas. Após a morte da esposa e do irmão, viu-se afundado em dívidas, tendo de sustentar a família do irmão, o enteado e um segundo irmão alcoólatra. Para fugir à pressão dos credores, acabou se refugiando em diversas cidades da Europa com sua segunda esposa, sem nunca interromper sua produção literária. A necessidade de dinheiro o forçava a concluir rapidamente seus livros e lhe creditou a frase “a pobreza e a miséria formam o artista”. Dentre suas maiores obras estão Crime e castigo, O idiota e Os irmãos Karamazov.
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução: Herculano Villas-Boas
Revisão Técnica: Oleg Almeida
Editora: Martin Claret
Páginas: 920
Ano: 2019
Editora: Martin Claret
Páginas: 920
Ano: 2019
ISBN: 9788544002193
2 Comentários
Estou devendo essa leitura a mim mesma, e sua resenha foi um estímulo, Jeff.
ResponderExcluirObrigado, Jess. Leia sim, acredito que você irá gostar bastante. Beijos e volte sempre.
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