[RESENHA #072] MADAME BOVARY | GUSTAVE FLAUBERT


Sinopse:
 
Texto de suma importância, “Madame Bovary” é uma leitura essencial, sendo considerado um dos melhores romances da literatura, sendo, provavelmente, o melhor dos livros do romance realista de caráter psicológico do século XIX. Para mostrar seu mundo, Flaubert põe em cena uma personagem em total desacordo com sua realidade, com sua posição social e com seu sexo. É nessa personagem que se centrarão as ações desenvolvidas na narrativa e os principais dilemas da obra.

Resenha/Opinião: Muito tempo se passou desde a minha primeira leitura de Madame Bovary de Gustave Flaubert e mesmo depois de anos e quase sem me lembrar de muitas coisas, posso dizer que a leitura foi, deveras, gratificante. Flaubert tem uma escrita sensacional que te absorve de uma forma tão imersiva que é muito difícil parar de acompanhar as mazelas de Madame Emma.

Além de ser um marco no estilo de romance, trazendo à tona o realismo literário, Flaubert apresenta vários tabus da época em que foi escrita essa obra tão importante. O autor incendeia diversas facetas da sociedade da época com uma crítica dura e realística, como o próprio nome do estilo literário já o diz, sem "romancear" nada nem ninguém, jogando na cara do leitor aquilo o que o Romantismo, geralmente, escondia: A vida depois do amor, das paixões e do casamento. Joga em pauta a rotina sufocante de um casal emergente em um ambiente de cidadezinha pequena.

O grande choque que ocorre entre o casal Bovary é determinante para uma justificativa das ações que Emma tem ao longo da história. Seu marido Charles é o típico homem apaixonado e cego pela esposa, que tem uma profissão que não ama, mas conformado como é, inclusive em todos os aspectos de sua vida, segue fazendo o melhor que pode, mas sem demonstrar qualquer vontade de melhora ou mudança. Emma, por sua vez, cresceu vivendo através de seus romances, onde via todo homem como um herói que a amaria e a levaria a viver emoções por toda a sua vida, principalmente depois do casamento, o que seria um sonho.


Mas, quando a dura realidade da vida cotidiana em uma cidade do interior da França e com um marido que se mostra “insuficiente” e “incompatível” com seus sonhos e desejos infindáveis e romantizados, a grande frustração ataca impiedosamente nossa protagonista fazendo-a ter desejos e sonhos nada ortodoxos para a época em si.

A partir daí, o autor tece uma crítica mordaz a sociedade e ao papel da mulher, que sempre foi o de submissão completa. Mesmo que as situações descritas no livro sejam vividas na pele da personagem principal, uma mulher, não se pode esquecer de que a escrita é masculina e sempre vai lhe trazer aquela impressão, por menor que seja, que as ações de Emma, são, na verdade, as de um homem não só daquela época como na de hoje.

Claro que isso não quer dizer que o relatado em Madame Bovary não acontecia, mas, para mim, essa impressão de troca de papéis ainda persiste nessa minha segunda leitura da máxima de Flaubert. Mesmo assim, ele, o escritor, evidenciou as auguras de ser uma mulher no mundo dos homens e de ter desejos não correspondidos pela vida e por suas escolhas. Pode-se perceber bem isso analisando a troca de caráter do casal Bovary onde o homem tem aquela atitude resignada e a mulher uma atitude mais desafiadora, mesmo que um tanto sonhadora.


Outra coisa interessante em Madame Bovary, é a demonstração da cobrança, também pela vida, de seus atos e escolhas, onde o autor deixou bem claro que toda ação tem sua respectiva reação, seja ela imediata ou não, e, por mais que sua obra seja um marco da literatura realista, qualquer leitor ainda vai encontrar pequenas notas do romantismo no decorrer da história, o que não deixa de ser surpresa ante ao ineditismo do Realismo até então.

A família também fica bastante evidenciada na história, mas de uma maneira bastante nua, crua e totalmente despida de qualquer véu romântico como era de costume até então. No romance de Flaubert as relações familiares são mostradas da forma mais verdadeira possível e porque não dizer, comum naquela sociedade um tanto fria da época, acostumada a seguir conceitos morais e muitas vezes calcados apenas em aparências.

Podemos também encarar a personagem de Emma como a personificação da frustração dos seres humanos em qualquer época que seja, pois ela demonstra claramente o insaciável desejo de realizações pessoais, onde muitos sequer chegam perto de acontecerem; a grande resistência às mudanças e adequações, que chegam com o progresso e a necessidades de todas as novas gerações entre outros fatos, e, em meio a tudo isso, o desprezo por tudo aquilo que se conseguiu em vida, evidenciando o grande estado antagônico em que o ser humano vive.


Madame Bovary de Gustave Flauber, publicado pela editora Martin Claret,  não é apenas um dos romances clássicos que inaugura o Realismo literário, é também uma profunda crítica sócio-econômica-cultural que evidencia a psicologia comportamental da vida familiar, incluindo todas as suas mazelas sem se utilizar dos tradicionais, até então, “panos quentes”.

Tenho certeza que muitos dos que já leram essa fantástica obra da literatura mundial, hão de concordar comigo que Madame Bovary é I.M.P.E.R.D.Í.V.E.L., isso para não dizer O.B.R.I.G.A.T.Ó.R.I.O.

Autor: Gustave Flaubert nasceu em Rouen em 12 de dezembro de 1821. Escritor importante, marcou a literatura francesa pela profundidade de suas análises psicológicas, seu senso de realidade, sua lucidez sobre o comportamento social e pela força de seu estilo em grandes romances como Madame Bovary, A Educação Sentimental, Salambô e também em seus contos como Trois Contes. Flaubert faleceu em 08 de maio de 1880 aos 58 anos. [fonte: Wikipédia].


Ficha Técnica:
Título: Madame Bovary
Autor: Gustave Flaubert
Tradutor: Herculano Villas-Boas
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 398
Ano: 2015
ISBN: 9788544000373

Postar um comentário

0 Comentários