[RESENHA #080] O RETRATO DE DORIAN GRAY | OSCAR WILDE


Sinopse: Um dos mais célebres romances filosóficos de todos os tempos, O retrato de Dorian Gray narra a história de um jovem narcisista que vende sua alma em troca da beleza e da juventude eterna. Oscar Wilde questiona a sociedade da época e faz de Dorian Gray o espelho de uma juventude decadente em plena Inglaterra vitoriana.

Resenha/Opinião: Uma das literaturas mais ácidas da era vitoriana, O Retrato de Dorian Gray, único romance publicado de Oscar Wilde, também pode ser classificado com um exemplo da literatura gótica e foi, e ainda é, um estrondoso tapa na cara da aristocracia com suas hipocrisias e falsos moralismos. Curiosamente, o personagem mais crítico de todos na história é Lorde Wotton com sua visão diferenciada da vida e da sociedade, que traz em tons hedonistas suas opiniões que ressaltam a beleza e o prazer como principal direcionamento de vida, pelo menos a que vale a pena ser vivida.

Talvez, Lorde Wotton, seja o alter ego de Wilde, por onde ele expressa livremente todos seus sentimentos de uma forma direta e altamente crítica. Não faltam parágrafos onde o Lorde destila sua visão da vida e alfineta toda uma sociedade e suas regras sufocantes. Não tem como o leitor ficar indiferente com esse personagem tão cheio de respostas e objetivos tão diretos e resolutos que muitas vezes acabam até nos desconcertando, tamanho grau de veracidade e atualidade de sua visão.

Por outro lado, temos o personagem principal, Dorian Gray, que exprime toda a beleza da juventude e sua inexperiência de vida. Dorian se apaixona pela visão de Wotton e a partir dessa premissa, traça seu destino de uma forma muito peculiar. O narcisismo de Gray quando jovem, é aquele natural que atinge a todos numa certa idade de nossas vidas, porém é o sustento desse narcisismo como motriz de sua vida é que traz todos os infortúnios para a alma de Dorian. Ora, em uma sociedade que vive de aparências e regras estapafúrdias, quem em sua sã consciência não aceitaria um acordo como o vivido pelo personagem?

Saber que sua aparência não seria afetada por suas escolhas, sejam elas certas ou não, e que o tempo nada lhe significaria, por si só, já seria uma oferta tentadora demais para qualquer mortal conseguir se desvencilhar. E é nesse contexto que Wilde nos apresenta o horror do poder sem consequências. Ele nos mostra até onde alguém poderia chegar quando suas ações têm consequências apenas para os outros e não para si mesmo.


Wilde é brilhante em nos mostrar as fases de seu personagem, Gray, que começa como um jovem extremamente belo e puro, com suas dúvidas e incertezas, sonhos e desejos, cheio de amigos que se encantam com sua pureza característica dos jovens e termina externamente imaculado, mas diabolicamente execrável em seu interior. É também muito interessante ver a progressão de seus personagens ao longo da história, onde alguns se mantêm presos às regras impostas naquela sociedade e se acomodam no limiar de suas vidas insossas, e outros que ousam a cada dia mais, na tentativa de se sentirem livres utilizando-se das falhas ocultas nas referidas regras da época, mas que no fundo ainda têm seu grilhão na corrente da dita sociedade.

Nesse ponto, Wilde demonstra que Dorian Gray foi o único personagem que sempre foi livre de toda e qualquer imposição de sua época e que escolheu viver sem regras e sem se importar com nada além de si mesmo e seus prazeres. A deterioração da índole do personagem é uma das coisas mais impressionantes em toda a história de Gray, que não se incomoda em frequentar antros de uso de ópio, prostíbulos, influenciar pessoas e até induzir suicídios por seus atos cruéis e insensíveis ao próximo.

Mas ainda assim, Wilde demonstrou que mesmo na liberdade de escolha sem consequências, um dia, mesmo que demore, a cobrança é feita, fazendo com que o leitor perceba que tudo é como uma ilusão onde o herói ou o vilão somos nós mesmos. Talvez a principal mensagem de toda a história de Dorian Gray, seja a que por mais que você ache que está seguro atrás de seus estratagemas de proteção, não quer dizer que esteja imune as reações de suas próprias ações, ou seja, a invencibilidade é apenas temporária, uma ilusão com começo meio e fim e nesse mesmo fim, todos devemos pagar por nossos atos.

O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, publicado pela editora Martin Claret, é um presente que deve ser lido, relido, apreciado e estudado na qualidade de um clássico universal e espetacular, que consegue ser incrivelmente atual e absolutamente IMPERDÍVELSimplesmente, O.B.R.I.G.A.T.Ó.R.I.O.


Autor: Oscar Wilde (1854-1900) nasceu na Irlanda em 1854. Ao longo de sua carreira como escritor, produziu poemas, contos, ensaios e um único romance: O retrato de Dorian Gray. As peças teatrais alçaram-no ao sucesso na última década do século XIX. O êxito literário também lhe rendeu uma situação financeira abastada, que lhe proporcionou, consequentemente, uma vida desregrada e extravagante. Em maio de 1895, acabou condenado a dois anos de trabalhos forçados por cometer sodomia – a homossexualidade era considerada crime na época. A prisão foi sua ruína. Em 1897, mudou-se para Paris e passou a usar o pseudônimo Sebastian Melmoth. Morreu em 1900, de meningite – agravada pelo alcoolismo e pela sífilis.


Ficha Técnica:
Título: O Retrato de Dorian Gray

Autor: Oscar Wilde

Tradutor: João do Rio

Editora: Martin Claret

Páginas: 248

Ano: 2016

ISBN: 9788544001325

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